O papel do dentista no tratamento Oncológico.

O tratamento oncológico pode ser feito através de várias modalidades de acordo com cada tipo de tumor a ser tratado, e pode ser realizado com cirurgia, quimioterapia ou radioterapia. Cada uma destas modalidades tem suas indicações, mas também apresentam sequelas e/ou efeitos colaterais. É aqui que entram as equipes multidisciplinares no atendimento ao paciente em tratamento oncológico, visando prevenir e minimizar estas sequelas e/ou efeitos colaterais e promover uma boa qualidade de vida ao paciente e seus familiares.
 A quimioterapia e a radioterapia na região de cabeça e pescoço são as modalidades terapêuticas do câncer que normalmente necessitam de uma avaliação odontológica antes do início do tratamento.
 Durante a quimioterapia, dependendo da droga que será utilizada, o paciente pode apresentar queda na imunidade e ficar susceptível a infecções. A cavidade bucal é um dos locais do organismo com a maior quantidade de bactérias, e estas bactérias podem se tornar nocivas levando a infecções localizadas ou generalizadas em momentos em que há queda da imunidade. Por isto, procurar um dentista antes de iniciar a quimioterapia é tão importante, pois irá reduzir focos de infecção e consequentemente o risco de infecções graves durante o tratamento.
Os pacientes que serão irradiados na região de cabeça e pescoço precisam obrigatoriamente passar por uma avaliação odontológica prévia. Uma adequação da cavidade bucal, baseada no campo e na dose de radiação que será administrada, irão prevenir complicações durante e principalmente após a radioterapia. Durante a radioterapia o aparecimento de infecções fúngicas ou bacterianas, de mucosites e dificuldade para engolir podem ser minimizados e aliviados com cuidados adequados. Após a radioterapia cáries de radiação e osterradionecrose são as principais complicações que serão melhor evitadas quando o paciente passa por avaliação odontológica adequada antes de iniciar o tratamento.
A mucosite é um efeito colateral que pode estar associado tanto à quimioterapia quanto à radioterapia na região de cabeça e pescoço. O uso da laserterapia é um recurso com excelentes resultados tanto para minimizar a dor associada a estas lesões como para acelerar o processo de cicatrização.

A perda dos dentes vai além do prejuízo estético

Estudo realizado em Boston (EUA) mostrou que à medida que o número de dentes diminui, a ingestão de fibras e cálcio também diminui e os níveis de colesterol do indivíduo aumenta. Ou seja, menos dentes na boca é sinônimo de má alimentação.

O dado torna-se preocupante porque mais de 30 milhões de brasileiros não têm nenhum dente na boca e, entre a população que mais cresce no Brasil – a faixa da terceira idade – 90% das pessoas já perderam pelo menos oito dentes, equivalente a 1/3 da capacidade de mastigação.

Com os dentes comprometidos, o indivíduo não mastiga corretamente os alimentos, prejudicando a digestão e levando a uma baixa ingestão de nutrientes essenciais. Sem a devida reposição dental, fica difícil mantermos uma boa qualidade na alimentação, com ingestão de frutas, verduras cruas, cereais e alimentos integrais. A qualidade de vida é diretamente afetada com a perda dos dentes, principalmente na terceira idade, quando os casos são mais frequentes.

Para resolver o problema, o tratamento mais eficaz é o implante dental osseointegrável, que não pode ser removido como as dentaduras e outras próteses. Este tipo de reabilitação tem benefícios tanto funcionais quanto estéticos e ajudam na manutenção da quantidade óssea do maxilar, o que evita a deformação facial nas idades mais avançadas.

Muitas pessoas ainda têm medo da fase cirúrgica para colocação de implantes e por isso os evitam, mas o avanço das técnicas cirúrgicas permite procedimentos pouco invasivos, trazendo conforto durante a cirurgia e também no pós-operatório. É importante lembrar que, muitas vezes, os sintomas apresentados pelos pacientes envolvem diversas áreas e, por isso, é essencial a integração de várias áreas da saúde, como fisioterapeutas, fonoaudiólogos, cirurgiões-dentistas, psicólogos, nutricionistas e médicos.

Matéria escrita por Fabiano Alvim Pereira, cirurgião-dentista, de Curitiba